an Lengen
Empório do Livro
2008
2008
BIOCONSTRUÇÃO
Manual do Arquiteto Descalço
Com linguagem simples e desenhos explicativos, Johan van Lengen ensina a planejar e construir habitações, bairros, banheiro seco, fogão e muito mais – e mostra que técnicas populares antigas chegam ao século XXI apontando caminhos para a sustentabilidade
Giuliana Capello
Inúmeras razões alteraram esse cenário em poucas décadas. Para citar algumas: o êxodo rural e a perda da identidade cultural lançaram ao limbo muitas técnicas construtivas tradicionais; o setor da construção civil se estruturou levantando bandeira contra a autoconstrução e tirando proveito da influência no PIB de seus países para ditar as regras do jogo; a falta de planejamento urbano e o intenso adensamento populacional só tornaram o problema ainda mais complexo.
O resultado? Habitações precárias se espalharam por todo o globo, desenhando no skyline a face de um dos maiores desafios atuais da humanidade: combater o gigantesco déficit habitacional. E mais do que isso: a tarefa hercúlea de substituir milhões e milhões de moradias insalubres por outras mais dignas e adequadas às urgências do planeta.
O arquiteto e urbanista Johan van Lengen conhece bem essa história. Holandês, ele passou a maior parte de sua vida na América Latina - até se estabelecer no Brasil e fundar, em 1987, o TIBÁ – Instituto de Tecnologia Intuitiva e Bio-Arquitetura (www.tibarose.com), na serra fluminense. Só no México foram oito anos de trabalho, a convite da ONU, coordenando a capacitação de moradores e agentes públicos em construções sociais e planejamento urbano. Nos países por onde passou, pesquisou a arquitetura das habitações indígenas e diz ter se inspirado, principalmente, na gente do campo e das zonas precárias das grandes cidades que, como ele escreve, sustentam a confiança na possibilidade de melhorar suas condições de vida, por mais que isso pareça impossível.
Neste livro, que é resultado da revisão e ampliação de outras obras do autor (como a homônima publicada pela Secretaria de Assentamentos Humanos e Obras Públicas do México, em 1981), van Lengen reúne uma série de técnicas e materiais usados em construções tradicionais. Mas, ao contrário do que pode parecer, a intenção não é ser saudosista ou fazer apologia à arquitetura vernacular. Nas palavras dele: “Não se trata de induzir as pessoas a construírem suas próprias casas na maneira tradicional. O mundo mudou muito, há escassez de materiais tradicionais de construção e de mão-de-obra com este conhecimento. Diante disto, tal tipo de informação seria uma frustração para o leitor. Trata-se, antes, de responder aos desafios atuais da questão habitacional e apresentar alternativas, aplicando no processo construtivo uma combinação de técnicas tradicionais e modernas”.
Desse convite para um encontro do “velho” com o “novo” vem o nomeManual do Arquiteto Descalço. Na antiguidade, os arquitetos costumavam amassar a terra com os pés para preparar tijolos. Hoje, pouquíssimos profissionais encarariam uma tarefa dessas – talvez uma alusão, por outro lado, de que sem levantar da cadeira será difícil dar um rumo mais sustentável à arquitetura.
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